segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Só escreva

Eu gosto de escrever, sempre gostei, muitas vezes pôr meus pensamentos e sentimentos no papel foi mais do que um gosto, uma necessidade. Até aí tudo bem, mas devido a modernidade e a preguiça fui deixando os diários de lado para escrever na internet. Em blogs. De modo público. Obviamente a ansiedade e a vergonha fizeram com que muitas textos não saíssem do rascunho. Ainda hoje, penso duas, três vezes antes de postar. São raras as exceções que fazem com que eu escreva e publique um post em apenas meia hora sem pensar em julgamentos. Normalmente, julgamentos são meu editor chefe. Um editor bem malvado e criterioso. Por outro lado, adoro ler o que outras pessoas escrevem, seus posts, suas histórias, seus poemas, leio sem preconceitos e expectativas, leio na esperança de ao beber da fonte, poder fazer jorrar bonitezas de mim.

Não consigo, entretanto, ser tão benevolente comigo mesma. Não importa que o assunto dê pano pra manga, nem se não passa de mais um meme para encher linguiça. Prefiro ver o episódio novo daquela série que todo mundo diz ser boa, ler aquele livro com capa feia e personagens interessantes do que sentar e esculpir as ideias. Escrever não é fácil, fácil é deixar para lá, na desculpa de não ter inspiração. Mas inspiração não é como alergia: quando você não tem, você inventa. Se inventar desculpas é tão fácil, inventar motivos para escrever também deve ser. Escolher passar vergonha com prosas mal construídas ainda é melhor do que ignorar o chamado. Porque essa febre de palavras só pode ser um chamado. Aquela coisa que acontece às 2h35 da madrugada e você não consegue dormir porque seu cérebro está criando uma história boa demais para não ser contada ou quando no meio da sua aula de História da Arte você começa a divagar sobre a vida dentro dos quadros e como isso daria um bom conto que provavelmente você nunca vai escrever mas que ainda é mais interessante do que estudar as influencias artísticas vindas da Grécia Antiga? Eu sei. É loucura total. As palavras ficam zumbindo na sua cabeça, implorando para serem postas para fora. Gritando com você. Brigando por atenção. A sua, e dos outros.

Lembrei então, de quando fiz um laboratório de roteiro de cinema. Lá pelo segundo período da faculdade eu precisava fazer um laboratório de livre escolha para cumprir a carga horária obrigatória. Eu não quis escolher fotografia analógica porque era preciso estar na faculdade às 7h da manhã. Um absurdo. Obviamente, escolhi roteiro de cinema porque 1) tenho uma fascinação por cinema 2) bastava escreve, oras. O laboratório se revelou uma terapia em grupo, em sua maioria meus colegas optaram por jornalismo e audiovisual como habilitação. E, publicidade. Nosso professor não era professor de verdade, era um bon vivant de esquerda que entre outras coisas, trabalhava para HBO. A gente se reunia às sextas e conversava, basicamente, sobre as atualidades da semana e sobre a agustia que era escrever. Escrever algo bom, interessante e relevante usando nossa vida, nosso conhecimento, nossa criatividade como ponto de partida. Era maravilhoso. Era terrível. Escrevi pouquíssimas coisas nessa laboratório, e como me arrependo. Ouvia as histórias das outras pessoas que chorava por dentro. Eu tinha medo de escrever e de não ser bom. Medo de que as pessoas não se sentissem abraçadas pelas minhas palavras como eu me sentia pelas delas. Como me arrependo. Ao fim da nossa experiência alguns de nós, eu inclusive, prometemos que voltaríamos no período seguinte. Fomos proibidos. Nosso não-professor disse que não podíamos tentar viver a mesma coisa outra vez, tínhamos que ir atrás de outras coisas, aprender com outras pessoas, ter uma experiência totalmente diferente. Fiquei triste, mas concordei. O momento já tinha passado.

Hoje, prestes a iniciar o sétimo período da faculdade, após falhar miseravelmente no BEDA, depois de ler Slammed 1 e 2, decidi não deixar o momento passar. Não deixar os textos passarem, a crônica passar, não deixar a inutilidade pública mas deliciosa de escrever passar.

Inspirada por Edmund David-Quinn, prefiro escrever mal do que deixar atrofiar em mim as histórias que tenho a contar.

valeu o conselho, Shia

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