terça-feira, 21 de abril de 2015

Aqui jaz uma leitora da Capricho

Em 2008 eu não só lia como também colecionava a revista Capricho. Há 7 anos! Nessa época, gente como Antonio Prata e Lucio Ribeiro escrevia pra Capricho. Eu amava a ambos. Eu me identificava com ambos. Eu não gostava de Avril Lavigne mas já amava Arctic Monkeys. E eles me entendiam, esses dois caras eram um sopro de lucidez numa fase pouco racional. Eles não me tratavam como a adolescente boboca e imatura que eu era. Veja bem, eu tinha 14 anos, ou seja, de fato era boboca e imatura mas sentia que poderia conversar com eles de igual para igual, sem intimidações. Com eles aprendi que não havia distinção entre adultos e, digamos, não-adultos. Não havia quem sabia mais e quem sabia menos, só havia quem estava disposto a compartilhar o que sabia e a aprender mais. Nem todos estavam, é claro, e ainda não estão. Mas eu estou porque tive dois ótimos professores, dois amigos. Hoje, eu não leio mais os textos do Antonio, eu não acesso mais o blog do Lucio, eu sequer sigo ele no twitter (!). Não sei como eles estão mas eu estou bem obrigada. Também não sei que contribuição a Capricho faz para as adolescentes hoje em dia. Mas eu nunca esquecerei que numa revista cor de rosa cheia de referências aos clichês e reforço de estereótipos eu conheci dois caras que falavam sobre tudo comigo, desde amores platônicos até problemas com os pais - passando por crises existenciais -, falavam sobre ser alguém na vida e sobre se sentir um ninguém, sem medir palavras, e sem se distanciar das situações. Lucio falava de música, Antonio falava da vida, os dois falavam de mim sem nem saber. Guardo recortes das colunas dos dois numa pasta cheia de outros recortes de revista, guardo também um carinho especial por eles e por quem eu era quando os conheci e mais ainda por quem eu sou agora. Nessa idade, lendo Capricho descobri que poderia ser quem eu sou, curtindo One Direction, lendo Leminski e ouvindo a rádio MEC. Descobri que nada precisa seguir o curso do rio ou fazer sentido. E que ninguém era melhor por gostar do que gosta ou pior por não gostar do que eu gosto. Aprendi que na confusão da vida tem sempre algo ou alguém que vai falar com você.  Essa é a filosofia adolescente despretensiosa, porém certeira.
Eu quis, por muito tempo, ser jornalista por causa deles. Eu achava que jornalista era aquela pessoa bacana, vivida, que adorava compartilhar experiências e ajudar os outros, dividir tudo que havia aprendido. Jornalista, pra mim, era quem entendia, inspirava e incentivava o leitor. Eu queria ser isso. O tempo passou e eu descobri que não era bem assim, descobri um monte de outras coisas também.
Antonio saiu da Capricho no fim de 2008, o Lucio saiu depois. Entrou aquele Gabe Simas, mas ele não fala das questões da vida, nem nada. Tem umas gurias aí, tem a Juliana Cunha, sabe. Eu até que gosto bastante dela. Mas ela não escreve pra Capricho, uma pena. Será que alguém ainda lê Capricho, eu me pergunto, alguém ainda lê? Quem vai dar esperança pra essa galera nova? Meu Deus, que papo de velho! Devo estar velha mesmo.

2 comentários:

  1. Ainda sou adolescente mas me recuso a ler revistas que usam frases do tipo "paquerar o gatinho", "super cool" e outras coisas que só de pensar já dá vontade de vomitar. Serio, tenho pânico dessas revistas que são destinadas ao público adolescente. Normalmente eles tratam as leitoras como adolescentes bobocas e imaturas (e às vezes elas são exatamente isso mesmo) como você falou. Enfim, gostei muito do seu blog. Beijos ❤

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    1. Que bom que você gostou! Fico feliz :) E sim, é uma pena que as revistas adolescentes se limitem a isso mas ainda tem gente fazendo um trabalho legal. Tem um revista online que eu recomendo MUITO, a Capitolina e se você lê em inglês recomendo a Rookie Mag. <3
      Volte sempre, beijo!

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